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Curto muito o trabalho de vocês.
Por incrível que pareça, só tenho tempo de acompanhar o site altas horas da madrugada por causa do meu trabalho, o que dá sempre um medozinho às vezes!
Sou André, nasci em Minas Gerais, em Uberlândia e hoje em dia moro no estado do Mato Grosso, após ter sido aprovado em um concurso público: sou investigador da Policia Civil do Mato Grosso (MT).
Sempre morei em Uberlândia, até que depois de concluir o curso de Direito, resolvi prestar concursos públicos.
Passei em 03 estados diferentes, sendo Goiás, Santa Catarina e Mato Grosso.
Por conveniência salarial, escolhi vir para para o Estado do Mato Grosso.
No começo, era tudo alegria.
Morava em Cuiabá, tinha lazer, cultura, um aeroporto que me permitia ir pra minha cidade principalmente nos feriados, até que, devido a maldita copa do mundo de 2014, em que MT sediou 04 jogos, fui transferido para região de fronteira, para ajudar no combate ao tráfico de drogas e desmatamento ilegal.
Pois bem, a copa acabou, meu trabalho foi bem reconhecido e então me convidaram para permanecer naquela cidade, que mesmo pela distância e insalubridade, acabei aceitando.
A cidade chama-se Juruena e fica no norte do MT [Coordenadas GPS: Latitude / Longitude = 10°19'56.00"S, 58°29'42.75"W], praticamente dentro da Amazônia. Só para chegar à Cuiabá, partindo de la, são 950 km.
Por lá fui ficando, a depressão foi batendo, a vida passando e o salário já não era algo tão atraente mais.
Em meio a tanto marasmo, pedi folga de 3 dias pro meu chefe e fui simplesmente ao festival "Tomorrowland", edição do ano passado (2015), de 01 a 03 de maio, e acabei ficando uma semana.
Foi o melhor fim de semana que tive em anos.
Fui de carro até Cuiabá (950 km), sendo que 350 km por estrada de terra que corta a selva amazônica.
12 horas de viagem depois cheguei a tempo no aeroporto de Cuiaba e peguei um voo até São Paulo. No dia do evento, parti pra Itú.
Enfim, o evento acabou, curti pacas com os melhores djs do mundo, porém, tive que voltar à realidade depois.
Chegando ao aeroporto de Cuiabá, por volta das 13 horas, resolvi pegar a estrada de volta para cidade onde trabalhava.
Por 600 km, a estrada é boa, de asfalto, e em alguns locais, movimentada, principalmente de caminhões (Mato Grosso é o maior produtor de soja do mundo).
Resolvi parar e descansar em uma cidade de nome Brasnorte, (550 km) de Cuiabá [Coordenadas GPS: Latitude / Longitude = 12° 7'13.52"S, 58° 0'16.90"W].
Porém, como eu estava ansioso para retornar, já que meu chefe já estava exigindo que eu voltasse, resolvi sair de Brasnorte já tarde da noite.
Com sorte, chegaria em Juruena até o final da manhã do dia seguinte. E assim eu fui.
Em meu crossfox branco, que já não tenho mais consegui chegar em Juina, cidade no noroeste do Mato Grosso [Coordenadas GPS: Latitude / Longitude = 11°25'14.68"S, 58°45'43.34"W], a última cidade até onde chega o asfalto, onde meu chefe se estabelece.
Resolvi parar por lá, falar com ele e justificar a ausência.
Quando dei por mim, ja era 15:30 da tarde. Armava chuva naquele momento.
Abasteci o carro e segui.
Ainda fatavam 350 km até minha cidade de destino. Porém este percurso é o pior possível e imaginável, sendo praticamente a Transamazônica com estrada de terra mau conservada e deserta. Pra piorar, começou a chover torrencialmente.
Foi então que já tarde da noite, umas 23 horas, não estava nem na metade do caminho atė Juruena, meu crozinho fox atolou na estrada.
Tal estrada alÉm de ser péssima, já se encontra dentro da Amazônia legal.
Então, existem árvores com floresta densa dos dois lados da estrada e sem acostamento.
Mesmo durante o dia essa estrada é escura e quase deserta por causa da altura das árvores e alguns perigos, como colisões com animais silvestres ou ataques de índios.
Como eu estava voltando de um final de semana espetacular, só queria chegar em casa, então eu pensei: "poxa, depois de tanta diversão, ficar atolado por alguns minutos tá valendo. Dos males, o menor".
Contudo, passaram-se horas e meu carro conrinuava atolado e a chuva havia se intensificado.
O vento batia nas árvores enormes e produzia um uivo quase que sobrenatural.
Então, com o farol ligado, vi um homem à distância caminhando pela estrada, na chuva, vindo em minha direção.
Pensei: "pode ser minha salvação ou minha perdição".
Mas não tinha escolha. Precisava chegar na delegacia pra não ter o ponto cortado.
Quando o homem se aproximou, eu o chamei respeitosamente e perguntei:
- O senhor mora por aqui?
- Sim. Tenho sítio perto de Juruena.
- Juruena? Estou indo pra lá, mas com esse carro atolado, não posso fazer muita coisa. E meu celular também não pega aqui.
Então o senhor gentilmente disse:
- Estou indo pro sitio do meu irmão, posso pedir um guindaste pra te desatolar.
Como sabia que seria uma fortuna, então eu disse:
- Por favor, ligue na delegacia em Juruena, ou na PM mesmo e peça para o investigador de plantão Ewerton vir ao meu encontro com a viatura", (que era uma Mitsubishi L200 triton toda adptada para aquela região. Afinal, trabalhávamos no meio da selva, praticamente).
O senhor então disse que me ajudaria.
E voltou pelo mesmo caminho de onde veio.
Liguei o farol alto do carro para iluminar a estrada pra ele.
De repente, aquele homem sumiu diante da luz, que iluminava a chuva forte e o vento balançando as árvores e arbustos.
Ele era um homem bem normal.
Como Mato Grosso tem muitos descendentes de alemães, esse senhor não era diferente, loiro, alto, olhos claros, meia idade, sotaque arrastado e vestido quase como um gaúcho.
Só me perguntei o que ele fazia ali naquele lugar, com tanta chuva e sem carro, sozinho.
Como estava escuro e chovendo, não me importei com o sumiço do alemão bem na frente do feixe de luzes dos faróis do meu carro que havia acendido para iluminar o caminho dele.
Duas horas depois, talvez menos, chega meu colega, com a L200 para me resgatar.
Ele disse:
- aproveitou bem o fim de semana?
- Claro. Talvez um dos melhores da minha vida.
- Que bom, por que temos um homicídio pra resolver. Tudo indica que a vitima morreu hoje mais cedo. O assassino deve estar por aí.
Bingo, pensei. Pode ser aquele cara.
- Acabei de ver um homem, bem alemão, perambulando pela estrada. Inclusive, eu pedi pra ele (ļigar na delegacia pra alguém vir me desatolar).
Pronto. Caso praticamente resolvido. Assim que passar a chuva, vamos achar esse cara. Se foi ele o assassino, descobriremos.
Já passava das 02 da manha quando chegamos na delegacia. Fui descansar.
Às 6:30' da manhã já estava de pé. Chamei a equipe de investigações e disse? Vamos ao IML pegar informações da vítima.
Chegando no IML, solicitamos ao legista que nos fornecesse o laudo pericial que atestava a causa da morte.
Para o nosso espanto, aquele homem não foi assassinado.
Segundo autópsia, ele foi vitima de um ataque do coração fulminante dois dias antes.
- Podemos vê-lo, doutor.
- Claro.
Passamos por aquele corredor escuro e chegamos na geladeira com capacidade para até 8 corpos.
O assistente de necropsia abriu o saco e quando eu vi o defunto, só dei um grito:
- Jesus Cristo, mas esse foi o andarilho que me ajudou ontem.
Meu carro atolou e ele passava pela estrada. Pedi pra ele ligar pra DP pois meu celular estava sem sinal.
Então meu colega disse:
- André, quem nos ligou foi uma senhora.
Ela disse que seu marido estava há 2 dias desaparecido.
E quando ela me ligou, foi pra dizer que havia um corpo caído na beira da estrada.
Meu amigo então disse:
- Positivo companheiro,
recebemos a noticia de um corpo no meio da estrada.
Quando saí pra averiguar, te encontramos atolado na estrada.
Ninguém avisou que você precisava de ajuda.
Meu sangue gelou. Pedi pra ir embora e colocar a mente no lugar.
MAS UMA COISA TENHO CERTEZA,
EU FALEI COM AQUELE HOMEM DOIS DIAS DEPOIS DA SUA MORTE.
Depois disso, nunca mais fui o mesmo. Pedi transferência e evito dirigir à noite desde então.
Será que aquele pobre ser ainda caminha por aquelas estradas barrentas, escuras e coberta de matas, sem saber que já não está mais entre nós?
Depois desse dia, várias pessoas afirmam ver o alemão caminhando vagarosamente com seus olhos fundos pela estrada de terra, e desaparece sempre que alguém dá um farol de luz em sua direção para ajudar a iluminar seu caminho.
Seus familiares dizem que enquanto não rezarem uma missa para ele em uma igreja Luterana, que era sua religião, ele não terá paz e vai sempre fugir da luz.
Este é meu relato. Mas não acaba aqui.
Moro em Cuiabá, mas sempre penso naquele homem esquelético, de olhos claros e fundos, caminhando na beira da estrada, procurando uma igreja Luterana para pedir perdão por seus pecados.
Depois de meses, descobrimos que ele havia matado seu sócio para aumentar suas terras e enterrado o corpo às margens da rodovia.
Será que ele fica vigiando aquele túmulo razo, na beira da estrada? Espero não saber, nunca.
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André Barbosa
Cuiabá - MT - Brasil |
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